O Preço do Amanhã ("In Time" - USA - 2011 direção: Andrew Niccol)


 
(Escrito por: Renato Coelho)

Em um futuro recente, toda a humanidade é submetida a uma transformação tecnológica capaz de provocar alterações genéticas que modificam radicalmente o relógio biológico humano, retardando o envelhecimento das pessoas ao ponto de todos os indivíduos envelhecerem somente até os 25 anos de idade. Todas as pessoas crescem até os 25 anos de idade e depois disso não envelhecem mais. Entretanto, a partir desta idade começa a funcionar o relógio biológico das pessoas de forma temporal regressiva, daí todos passam a pagar para recarregar o tempo do relógio a fim de sobreviverem, entretanto, surge a divisão entre aqueles que necessitam trabalhar para adquirir tempo para sobreviver e uma outra minoria que explora o tempo daqueles e passa então a viver eternamente.

Cada indivíduo no filme nasce geneticamente com uma carga de tempo de sobrevivência, mas que é contada somente a partir dos 25 anos de idade. Inicia-se a partir de então, uma contagem regressiva da carga de tempo que o indivíduo possui em seu relógio corporal. Para a manutenção da sobrevivência é necessário recarregar o relógio de tempo de forma contínua, caso contrário, as pessoas morrem sem o tempo. A vida dos trabalhadores torna-se então uma corrida frenética e obstinada pelo tempo. Aqueles que trabalham, ao final de cada jornada diária nas fábricas, recebem uma cota de recarga de tempo. Torna-se necessário trabalhar hoje para ganhar as 24 horas de vida para sobreviver o dia seguinte, trabalha-se apenas para sobreviver dia após dia. Os alimentos, as passagens de ônibus, as compras nos supermercados e nas lojas são pagas com frações de tempo que cada um possui. A força de trabalho é reproduzida na forma de mercadoria, onde a moeda de troca é o próprio tempo de vida. A precarização do trabalho e da vida são manifestos na escassez de tempo para os trabalhadores, como relata o personagem Will Salas em um diálogo do filme: “Ou o tempo ou a sua vida, ambos são a mesma coisa”.

O filme retrata a máxima capitalista “Time is Money”, onde literalmente na vida dos personagens tempo é dinheiro e vice versa. O tempo passa a ser no filme uma simbologia do dinheiro, retratando a exploração de classe e a hierarquia social na sociedade capitalista. Enquanto os trabalhadores pobres residem no gueto, onde são segregados e explorados, os mais ricos e donos do grande capital trabalham e moram em New Greenwich, um local de muita riqueza e prosperidade. 

O tempo dos trabalhadores, subtraído através do trabalho mecânico e alienado, vai todo para New Greenwich, onde é acumulado e usufruído pelos mais ricos e donos do capital. Os moradores de New Greenwich não possuem preocupação com o tempo, fazem tudo devagar e adquirem a vida eterna, pois o tempo que lhes sobra é produto da exploração e da morte dos trabalhadores que residem no gueto. Para os moradores de New Greenwich viverem a eternidade, é necessário o extermínio de classe, ou seja, o genocídio diário no gueto.

Pode-se fazer também uma analogia do filme com a geopolítica das vacinas na pandemia de covid-19 no mundo. Países ricos adquirem mais de 80% das vacinas produzidas no mundo, enquanto os países pobres ficam sem plano de imunização nacional. Durante a pandemia descortinou-se as mazelas e diferenças de classe na sociedade capitalista, demostrando, na ficção como também na vida real, que o tempo de vida do trabalhador é sempre abreviado e subtraído, não simplesmente por um vírus, mas por um sistema de exploração que transforma o corpo, o tempo e a subjetividade do trabalhador em mercadoria, evidenciando assim a urgência na superação deste modelo de mundo alicerçado na exploração, na exclusão, na segregação e no extermínio da classe trabalhadora.