terça-feira, 30 de setembro de 2025

Filme: "VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI" - Apresentação e debate - 03 de outubro de 2025 - 19h - sala 08 - UEG ESEFFEGO


 (Escrito por: Renato Coelho)

O filme Você não estava aqui (2020), dirigido por Ken Loach, narra a história de um pai de família (Ricky Turner), que após a crise econômica de 2008, vê a sua família mergulhar numa enorme e difícil conjuntura financeira. Sob o falso discurso do empreendedorismo neoliberal, Ricky Turner, adquire uma van e passa a trabalhar de forma autônoma com entregas (delivery), acreditando que poderia ser o seu próprio patrão e se libertar da pobreza, do desemprego e da precarização do trabalho formal. 
O filme relata os impactos da chamada uberização da vida sobre uma família inglesa, formada por uma mãe que trabalha informalmente como cuidadora de idosos, um pai que trabalha como entregador por aplicativo e que tem ainda dois filhos adolescentes. Ricky Turner, trabalha numa escala infernal de 14h por dia, durante seis dias por semana, não possuindo tempo sequer de ir ao banheiro, sendo escravizado pela plataforma da empresa, que impõe um algoritmo com ritmos e tempos de entregas desumanos e perversos. As tecnologias, que enganosamente passam a ideia de autonomia e de mais tempo livre, fazem justamente o contrário na vida do trabalhador, permitindo que os clientes monitorem cada trajeto de Ricky ao dirigir em sua van, tendo direito apenas a pequenas paradas de 2 minutos para cada entrega. 
A precarização do trabalho leva também à precarização das relações humanas, das famílias e da própria vida humana. A família de Ricky Turner se comunica apenas por celular, o trabalho consome toda a vida dos pais, que não tem tempo para si, ou para educar ou conversar com os próprios filhos. O filme mostra o trabalho informal, precarizado e uberizado consumindo e destruindo uma família inteira, que entra em crise emocional, crise de relacionamentos e crise existencial diante do mundo do trabalho que os devora ainda vivos. O atual discurso e o conceito de trabalho, que na perspectiva da moral capitalista burguesa, representa a dignidade humana, o progresso e é tido como emblema de valorização da vida, mas na modernidade do capital, representa o contrário de tudo aquilo, ou seja, a miserabilidade, a escravidão, o colapso familiar e o adoecimento da pessoa humana.