sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Filme: "Até a Última Gota" - UEG ESEFFEGO




 (Escrito por: Renato Coelho)


O filme "Até a Última Gota" (EUA - 2025), dirigido por Tyler Perry, narra a história de Janiyah, uma mulher negra, mãe solteira e que trabalha em dois empregos, sendo um deles como atendente de caixa em um supermercado. Exercendo um trabalho precarizado, com baixo salário, morando em um local insalubre e sem dinheiro para pagar o aluguel. Janiyah mantém uma luta incessante para cuidar e educar Ária, sua filha doente de 8 anos de idade, cujos medicamentos de uso contínuo são bastante caros para o seu orçamento.

O filme, além de mostrar o racismo estrutural na sociedade norte americana, mostra os preconceitos de gênero e os estigmas enfrentados por uma mãe solteira, desempregada e ao ser despejada de casa, se torna também uma mulher sem teto. Revela ainda o descaso, a falta de diálogo, a violência e a desumanização das instituições sociais (escola, hospital, polícia, conselho tutelar, imprensa e governo) no trato com as crianças e seus familiares. E acima de tudo, o filme revela que a precarização e a intensificação do trabalho levam irremediavelmente à precarização da vida do trabalhador, a precarização dos relacionamentos sociais, ao colapso familiar e ao próprio  adoecimento do trabalhador. No caso de Janiyah, ela é acometida por um surto psicótico somado a delírios psicológicos.

Vivendo literalmente um "dia de cão", Janiyah perde o emprego, é despejada de sua casa e assiste sua filha ser levada pelo conselho tutelar da cidade para um abrigo de menores, sob a alegação de maus tratos da mãe. Para completar o "inferno astral" instaurado na sua vida, ela é vítima de uma violenta e injusta blitz policial no trânsito, onde é ameaçada de morte pelo policial e ainda recebe uma multa, tendo o seu carro rebocado. Ao voltar ao supermercado onde trabalhava, a fim de receber o último salário, o patrão lhe nega o pagamento. Naquele mesmo instante, ela presencia um assalto a mão armada por bandidos que assaltam o supermercado. Neste momento ela se defende dos assaltantes, matando um deles. O patrão a responsabiliza injustamente pelo assalto, dizendo que ela havia planejado tudo e chama a polícia, condenando Janiyah por algo que ela não fizera. Ela então, devido à grande pressão e às inúmeras tragédias vivenciadas naquele dia,  tem um surto psicótico e mata o próprio patrão com a arma de um dos assaltantes. Em seguida ela vai até o banco e tenta descontar o cheque do seu salário. Porém, a atendente de caixa não autoriza o saque do salário, porque Janiyah não tinha em mãos a carteira de identidade. Então, dá-se início ao suposto "assalto a banco" de forma involuntária, sem intenção e sem planejamento, praticado por Janiyah.

Janiyah, uma mulher negra e mãe solteira, sofre com a precarização do trabalho, com o  desemprego, com o racismo estrutural, com a misoginia de uma sociedade machista e com a falta de assistência social do poder público. Ela é arrastada  para um nível altamente precário de vida, que a leva para muito além do limite do humanamente suportável, tendo como consequência grave o adoecimento total da sua mente. Uma grave crise psicótica capaz de fazê-la cometer ações e crimes inimagináveis à sua conduta e intangíveis para a sua pessoa. O filme demonstra que a barbárie capitalista e a veemente violência promovida pela sociedade de classes, são as maiores vilãs e as verdadeiras responsáveis pela desumanização do trabalhador e também as grandes causadoras da pandemia de doenças psicossomáticas que tanto afligem e destroem o corpo e a alma humana na atual modernidade do capital: depressão, surtos, ansiedade, estresse, síndrome de Burnout, psicoses, suicídios e etc. 



segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Filme: "A Mula" (2018) - 06/10/2025 Sala 08 ESEFFEGO UEG


(Escrito por: Renato Coelho)

O filme "A Mula" (2018) dirigido por Clint Eastwood conta a história de um idoso de 90 anos, que assiste de forma irresoluta, a súbita falência de sua pequena empresa de plantas ornamentais (lírios), devido principalmente à  concorrência desleal com a Internet. Ele acaba ficando sem emprego, sem dinheiron e sem a sua família,  na qual ele nunca dera valor algum. 
O personagem Earl, recebe uma proposta de trabalho como motorista. Porém, da noite para o dia, se vê cooptado pelo cartel do narcotráfico (Sinaloa), para transporte terrestre de drogas entre o Texas e Chicago.
O filme também mostra os conflitos entre o mundo do trabalho e os relacionamentos familiares. O personagem Ealr, ex-combatente de guerra,  floricultor falido e atualmente motorista do cartel de Sinaloa, sempre deixou a família em segundo plano, colocando sempre o trabalho em primeiro lugar. A idolatria pelo trabalho provoca o colapso da família de Earl, o divórcio com a esposa, a inimizade com a filha e os atritos com a neta. 
O inesperado câncer da ex-esposa e a sua morte rápida, faz Earl enxergar a si mesmo e as suas escolhas erradas feitas durante a vida. Earl descobre o valor e a importância da família somente aos 90 anos, após a morte da esposa e a sua prisão por tráfico de drogas. Aos 90 anos descobre que a família é o bem mais importante da vida, e em suas falas, diz que o trabalho não pode vir em primeiro lugar. Ao contrário de tudo o que sempre fez, relata que a família deve estar em primeiro lugar e não o trabalho, revelando a todos que o mais importante na história de um homem, não consiste em suas atividades laborais, mas sim, os seus relacionamentos familiares. O personagem também faz no filme reflexões sobre o tempo, sua brevidade e a impossibilidade de comprar com dinheiro o tempo que fora perdido distante da família.