A província de Wuhan na China foi a primeira região do planeta a experimentar uma epidemia com o vírus Sars-Cov-2. O documentário acima produzido por uma TV chinesa não mostra, mas as autoridades de Pequim agiram de forma a tentar esconder do mundo os efeitos do vírus na sua população durante as primeiras semanas de contágio, numa tentativa clara em querer abafar o surto do novo coronavírus em Wuhan. O médico oftalmologista chinês Li Wenliang tentou alertar as autoridades de seu país sobre o início de um surto na sua cidade, porém, fora reprimido pela polícia chinesa, cuja intenção era de manter em segredo o surto provocado por um vírus, que até então era desconhecido. O médico Li contraiu o vírus ao tratar de um paciente no hospital de Wuhan e faleceu poucos dias depois do contágio. A morte do medíco Li provocou uma série de revoltas na população chinesa e teve repercussão na mídia mundial, o que levou o governo daquele país a abrir uma investigação sobre o novo surto em Wuhan e as denúncias de Li Wenliang. Tais tentativas autoritárias do governo Chinês ao tentar esconder do mundo a epidemia em Wuhan levaram ao atraso nas políticas de rastreamento e contenção ao vírus, o que permitiu assim a sua proliferação para além das fronterias chinesas.
Há comprovações científicas recentes de que o novo coronavírus, também conhecido como Sars-Cov-2, seja originário de morcegos que habitam nas cavernas de regiões centrais da China. O seu contágio em humanos se deu provavelmente através de um outro animal hospedeiro, chamado de intermediário, do qual houve a transmissão para os seres humanos (provavelmente o mamífero denominado pangolim). O mercado de Wuhan não comercializava morcegos, entretanto, havia a venda de vários outros animais selvagens que podem ter servido como o estopim dos contágios. A verdade é que o surto do novo coronavírus surgiu em Wuhan, porém, o início exato do primeiro contágio em Wuhan ainda está sob investigação ou talvez jamais se descubra. Mas o que importa destacar é que a caça e comercialização de animais selvagens deu origem ao surto de Sars-Cov-2. A destruição da natureza e a exploração de animais selvagens são capazes de produzir desequilíbrios na natureza e promover o desenvolvimento de surtos e a produção descontrolada de vírus, tal qual assistimos hoje no mundo.
O vírus Sars-Cov-2 está presente em morcegos, porém, o vírus não ataca o sistema imunológico destes mamíferos voadores. Entretanto, quando estes animais são retirados de seu habitat natural e aprisionados em redes ou gaiolas, este ambiente de estresse gerado sobre os morcegos é capaz de alterar drasticamente sua relação “amistosa” com o novo coronavírus. Ou seja, em ambiente de estresse, o sistema imunológico do morcego não é capaz de reagir à presença do vírus, provocando a sua multiplicação descontrolada e exagerada. E foi neste contexto que houve o contágio em animais intermediários e em seguida nos seres humanos. Dentro desta dinâmica de ação viral, houveram também mutações genéticas do próprio vírus que possibilitaram ainda a sua perfeita adaptação ao corpo humano.
Vemos no documentário “Epicentro – 24h em Wuhan” um cenário que se espalhou no mundo inteiro, hospitais lotados, médicos sobrecarregados, falta de insumos hospitalares, populações em quarentena, ruas e cidades inteiras vazias.
No Brasil e em Goiás também assistimos a transmissão comunitária do vírus e o aumento exponencial de transmissões e de mortes. Ao contrário de Wuhan onde se fizeram os procedimentos e protocolos adequados de quarentena e depois de testagem em massa, rastreamento, isolamento de contatos e tratamento hospitalar dos infectados, no Brasil, o que assistimos e presenciamos são poucas testagens, ausência de políticas públicas adequadas e efetivas de mitigação das transmissões do vírus Sars-Cov-2.
Dentro deste triste cenário de ausência de testagem em massa, a falta de atendimento hospitalar adequado às vítimas da Covid-19 e o crescente e alarmante aumento do número diário de mortos diagnosticados com esta doença, temos que refletir, pensar e repensar também sobre as decisões e caminhos a serem tomados pelas escolas, universidades e quais enfrentamentos a serem protagonizados, nesta atual realidade, por parte de professores, alunos e seus familiares. Sabendo que, neste contexto de total descontrole do vírus no Brasil, e sem uma vacina eficaz, será impossível o retorno presencial às aulas em escolas ou universidades, sem colocar em risco a vida de alunos, professores e familiares. E do outro lado temos o ensino à distância que no Brasil tem provocado maior aumento da exclusão social, a chamada exclusão social de alunos pobres e trabalhadores que não tem acesso à uma internet de qualidade. O novo coronavírus descortina por completo as nossas mazelas, nossa miséria e os nossos abismos colossais.