terça-feira, 1 de outubro de 2024

A Vítima Invisível: o caso Eliza Samudio

 




(Escrito por: Renato Coelho)

O documentário “A Vítima Invisível: o caso Eliza Samudio”, narra uma das mais terríveis e chocantes histórias de violência contra a mulher, ocorridas no Brasil. O documentário produzido em 2024 e dirigido por Juliana Antunes, roteirizado por Carol Pires e Caroline Margoni, conta a verdadeira história sobre a vida e a morte da modelo paranaense Eliza Samudio, que foi sequestrada e morta a mando do goleiro Bruno, considerado na época, um dos maiores goleiros da história do Flamengo e ídolo da maior torcida do Brasil. O documentário desbrava o machismo e a misoginia da cultura brasileira, que se enraíza e mistura com a própria cultura do futebol nacional.  O fenômeno futebol espelha os valores sociais e revela os preconceitos e estigmas de toda uma nação, e vice-versa, ou seja, a sociedade é também reflexo do que acontece dentro e fora dos gramados: o racismo, o machismo, a misoginia, as divisões de classe e todas as mazelas sociais. O documentário revela a trajetória da jovem mulher e mãe, Eliza Samudio, que representa também a luta de todas as mulheres dentro de uma sociedade patriarcal, sexista e machista. Mostra a luta diária e incessante, de uma mãe com o seu filho recém-nascido, pelos direitos básicos garantidos por lei, como pensão alimentícia e medidas protetivas, mas que não foram atendidas pelo sistema judiciário. A obra revela ainda um jogador famoso, envolto sempre pelas estruturas sociais hierárquicas e machistas, que protegem o indivíduo homem e culpabilizam as vítimas, que são  sempre mulheres. Descortina também as relações de poder e a transformação da vida de Eliza Samudio em espetáculo midiático, pela grande imprensa brasileira. Mostra ainda, o poder do dinheiro para tentar calar e destruir a vida de uma mãe, que vê todos os seus direitos cancelados e liberdades anuladas. O grito de desespero de uma mãe solitária, que luta contra tudo e contra todos, sendo calada diante do poder e das ameaças do goleiro mais famoso do Brasil, um homem frio e calculista, aliado aos seus comparsas, não menos sádicos e maquiavélicos. Os rótulos e estigmas sociais ajudaram a culpabilizar a vítima Eliza Samudio, e ainda fizeram dela, alvo do ódio e da crueldade incomensurável do machismo e da misoginia, que terminaram por ceifar, de forma cruel e horrenda, a sua vida. O documentário revela que este crime bárbaro e monstruoso ocorrido em 2010, serviu para modificar a Lei Maria da Penha, criando então, o denominado crime de feminicídio, que aumenta a pena em caso de homicídios impetrados contra mulheres, quando comprovado que a principal motivação do assassinato é a questão de gênero, ou seja, quando o motivo do crime, é o  fato da vítima ser uma mulher.

O mundo atual vive uma pandemia de ódio contra as mulheres (misoginia), dentro do contexto de uma cultura de estupros e de feminicídios, onde apenas a criação ou incremento das leis, não são capazes de acabar ou mesmo reduzir a violência contra a mulher. O que realmente tem surtido efeito e modificado radicalmente essa brutal realidade, são as ações, as lutas, os embates e os movimentos organizados das próprias mulheres no Brasil e em todo o mundo, contra a opressão e a violência da sociedade machista capitalista.

Eliza Samudio! Presente!



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