sábado, 2 de novembro de 2024

SUPER SIZE ME - A Dieta do Palhaço (Auditório UEG ESEFFEGO - GOIÂNIA) em 27/11/24 e 29/11/24

 





(Escrito por: Renato Coelho)

O documentário SUPER SIZE ME, produzido em 2004 pelo diretor Morgan Spurlock, é uma crítica voraz à rede de fast food norte americana McDonald’s. Para tentar provar que os alimentos processados e vendidos nas lanchonetes McDonald’s são prejudiciais à saúde humana, Spurlock se torna cobaia de um experimento criado por ele próprio, em que é obrigado a se alimentar por 30 dias somente nas redes de lanchonetes McDonald’s, e ainda com três refeições por dia: café da manhã, almoço e jantar. Durante o experimento, e com muito bom humor, ele mostra todo o funcionamento dos fast foods e a cultura que envolve a indústria de alimentos do McDonald’s nos EUA, analisando desde as políticas de propaganda e marketing, indo até as questões nutricionais que envolvem os alimentos que são produzidos e comercializados nos fast foods. Durante o documentário ele faz vários exames médicos e consulta vários especialistas na área da saúde, a fim de avaliar semanalmente as drásticas e brutais mudanças experimentadas pelo seu próprio corpo, ao ser submetido a esta dieta cruel, baseada somente em refeições do McDonald’s.

Os chamados fast foods surgiram nos EUA, após a Segunda Guerra Mundial, e dentro do contexto do taylorismo-fordismo, transformaram as refeições diárias humanas (lanches, almoço e jantar) em uma produção serial, sob a lógica da automação e da produção em massa. A racionalização capitalista fez surgir o fast food, como forma de diminuir o “tempo morto” da produção, ou seja, a redução do trabalho improdutivo do operário, que é aquele trabalho que não produz a mais valia (o horário das refeições), a fim de eliminar ou diminuir o tempo de pausa do trabalhador e torná-lo mais produtivo. O trabalhador se alimentando de forma rápida, pode retornar mais cedo ao trabalho, aumentando assim a extração de mais-valia relativa pelo seu patrão.  A transformação das lanchonetes em fast foods, representa o surgimento da máquina de alimentação fordista na produção das refeições diárias humanas, fazendo reduzir os gastos e aumentando a produção do capital, através do consumo de alimentos processados sob a lógica da automação capitalista.

O documentário mostra a correlação entre a cultura dos fast foods e a epidemia de obesidade nos EUA. A dieta de Spurlock demonstra, com base em dados científicos (exames médicos), que a alimentação baseada somente em comida processada de fast foods não é saudável, e que é capaz de produzir, além da obesidade em pessoas sedentárias, danos no funcionamento de órgãos importantes do organismo, como coração, cérebro, rins e fígado, além de comprometer o desempenho sexual.

Neste documentário, Spurlock mostra que o termo saúde deve ser encarado como uma categoria multifatorial, pois depende de várias questões, e dentre elas, de uma boa alimentação. O documentário mostra a luta e as dificuldades dos americanos obesos, em se livrarem dos cardápios contendo alimentos de fast foods e mudarem para uma dieta mais saudável. As entrevistas contidas no documentário revelam uma evidente culpabilização dos obesos e uma estigmatização social dessas pessoas nos EUA (no Brasil, não é diferente!). Na verdade, essas pessoas são vítimas, desde a infância, da cultura dos fast foods, com seu marketing agressivo e propagandas enganosas. O documentário também mostra as estratégias do McDonald’s em seduzir e fidelizar os clientes desde a mais tenra infância, para fazer destes no futuro, consumidores fiéis também na vida adulta.

Percebe-se no documentário, que os norte americanos não possuem um sistema público de assistência à saúde para atender os trabalhadores em geral (assim como no Brasil!), e isso faz com que estes trabalhadores se tornem sempre vulneráveis e desinformados, frente ao bombardeio de propagandas e "fake-news" da indústria alimentícia americana. Na fala de um dos entrevistados, professor de educação física de uma importante escola americana, há o relato de que, fica à cargo somente da disciplina Educação Física nas escolas, o “papel” de promover saúde para a grande parte da população (jovens estudantes), mostrando erroneamente a Educação Física como “remédio” para os complexos problemas e mazelas relacionados à epidemia de obesidade nos EUA, e negligenciando outros elementos tão importantes quanto a própria Educação Física. Denotando assim, uma visão totalmente distorcida, ingênua e ineficaz sobre os verdadeiros objetivos da Educação Física, corroborando com o falso paradigma que trata o exercício físico como saúde. 

A grande desinformação, somado à naturalização do pensamento de senso comum, se tornaram hegemônicos sobre conceitos e temas que abrangem saúde, alimentação, exercícios físicos e qualidade de vida, permeando o imaginário da população estadunidense, promovendo ainda mais alienação entre a população, e abrindo o caminho para as investidas insaciáveis da indústria alimentícia. E é por isso, que os fast foods se tornaram um sucesso, não somente nos EUA, mas em todo o planeta, pois não sabemos nada sobre aquilo que comemos, mas apenas comemos.

O documentário representa um verdadeiro ativismo social, promovido pelo seu diretor,  Morgan Spurlock, que foi capaz de criar uma mobilização mundial através do sucesso alcançado pelo seu documentário, (que inclusive foi indicado ao Oscar) contra a cultura alimentar dos fast foods, cujo símbolo maior é representado pela rede de lanchonetes McDonald’s.