O filme "Até a Última Gota" (2025), dirigido por Tyler Perry, narra a história de Jeniyah, uma mulher negra, mãe solteira e que trabalha em dois empregos, sendo um deles como atendente de caixa em um supermercado. Exercendo um trabalho precarizado, com baixo salário, morando em um local insalubre e sem dinheiro para pagar o aluguel. Jeniyah mantém uma luta incessante para cuidar e educar a filha doente de 7 anos de idade, cujos medicamentos de uso contínuo são bastante caros para o seu orçamento.
Vivendo literalmente um "dia de cão", Jeniyah perde o emprego, é despejada de sua casa e assiste sua filha ser levada pelo conselho tutelar da cidade, para um abrigo de menores, sob a alegação de maus tratos da mãe. Para completar o "inferno astral" instaurado na sua vida, ela é vítima de uma violenta e injusta blitz policial no trânsito, onde é ameaçada de morte pelo policial e ainda recebe uma multa, tendo o seu carro rebocado. Ao voltar ao supermercado onde trabalhava, a fim de receber o último salário, o patrão lhe nega o pagamento. No mesmo instante, ela ainda presencia um assalto a mão armada por bandidos que assaltam o seu patrão, o dono do supermercado. Neste momento ela se defende dos assaltantes, matando um deles. O patrão a responsabiliza injustamente pelo assalto, dizendo que ela havia planejado tudo e chama a polícia, condenando Jeniyah por algo que ela não fizera. Ela então, devido à grande pressão e às tragédias vivenciadas naquele dia, tem um surto e mata o patrão com a própria arma dos assaltantes. Em seguida ela vai até o banco e tenta descontar o cheque do seu salário. Porém, a atendente de caixa não autoriza o saque do salário, porque Jeniyah não tinha em mãos a carteira de identidade. Então, dá-se início ao suposto "assalto a banco" de forma involuntária, sem intenção e sem planejamento, praticado por Jeniyah.
O filme, além de mostrar o racismo estrutural na sociedade norte americana, mostra os preconceitos de gênero e os estigmas enfrentados por uma mãe solteira, desempregada e agora uma mulher sem teto. Revela também o descaso, a falta de diálogo, a violência e a desumanização das instituições sociais (escola, hospital, polícia, conselho tutelar, imprensa e governo) no trato com as crianças e seus familiares. E acima de tudo, o filme revela que a precarização e a intensificação do trabalho levam irremediavelmente à precarização da vida do trabalhador, a precarização dos relacionamentos sociais, ao colapso familiar e ao próprio adoecimento do trabalhador. No caso de Jeniyah, ela é acometida por um surto psicótico somado a delírios psicológicos.
Jeniyah, uma mulher negra e mãe solteira, sofre com a precarização do trabalho, com o desemprego, com o racismo estrutural, com a misoginia de uma sociedade machista e com a falta de assistência social. Ela é então levada, para um nível de vida, muito além do limite do suportável, tendo como consequência grave o adoecimento total da sua mente. Uma grave crise psicótica capaz de fazê-la cometer ações e crimes inimagináveis à sua conduta e intangíveis para a sua pessoa. O filme demonstra que a barbárie capitalista e a veemente violência promovida pela sociedade de classes, são as maiores vilãs e as responsáveis pela desumanização do trabalhador e também as grandes causadoras da pandemia de doenças psicossomáticas que tanto afligem e destroem o corpo e a alma humana na modernidade: depressão, surtos, ansiedade, stress, síndrome de Burnout, psicoses, suicídios e etc.


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